sábado, 27 de junho de 2009

A ALFABETIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO SER

MARIA JANETE SOUSA OLIVEIRA E ELETÍCIA PEREIRA CAMPOS
Professora: Giavana Zen


Este trabalho tem como objetivo trabalhar e entender o processo de alfabetização construído no dia-a-dia com procedimentos simples de compreensão sistematizada especificamente às reais situações em que os alunos se encontram. Foi um trabalho feito com alunos do 1 ano, da Professora e aluna da UFBA ( Universidade Federal da Bahia ) Maria Janete Sousa Oliveira, que inclusive, participou da referida atividade juntamente comigo: Eletícia Pereira Campos.






“Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos”
PauloFreire






APRESENTAÇÕES:

Escola Municipal Tenente Wilson Marques Moitinho, inserida no centro de Irecê, no Bairro Copirecê. É uma escola de pequeno porte, abrigando 380 alunos ( em sua totalidade ).
Professora: Maria Janete Sousa Oliveira - Alfabetizadora da referida escola há 5 anos.
Turma: 1 ano
DEPOIMENTO DA PROFESSORA MARIA JANETE

“ A minha turma é composta por vinte e sete alunos com hipóteses de escrita e leitura heterogênea. Alunos com escrita pré-silábica, grafismo primitivo, silábico oral e escrito, silábico em transição e no processo inicial da escrita alfabética.
É uma turma heterogênea que possibilita propor atividades produtivas, em função do que os alunos já sabem e o que é preciso construir e ampliar. Necessário se fez, no início do ano, elaborar uma atividade de diagnóstico sobre o que as crianças já sabiam a respeito de leitura e escrita, pois só assim torna-se possível propor atividades desafiadoras, possíveis de resolver, agrupamentos funcionais, levando em consideração as hipóteses dos educandos, possibilitando uma aprendizagem que acontece de modo processual.
Sem o conhecimento, pelo menos básico, da psicogênese da língua escrita, não é possivel descobrir o que sabem e o que não sabem os alunos.Mas se esse conhecimento está disponível, o professor pode montar seus próprios instrumentos diagnósticos ( Ferreiro,2001 ).
Foi adquirindo estas consepções, que estamos tentando oportunizar aos nossos alunos aprendizes significativas para que possam avançar em suas hipóteses de leitura e de escrita”.







ESTRUTURA DO DIAGNÓSTICO

Utilizamos uma listagem de material escolar:

LIPISEIRA
CADERNO
LAPIS
GIZ
MEU CADERNO É NOVO.

Foi uma atividade realizada individualmente, sem intervenção do professor.
Como a turma é grande e só duas cursistas para aplicar o diagnóstico, não foi possível registrar todas as falas dos educandos, além disso, alguns se negavam a falar o que estavam pensando no momento em que executavam o diagnóstico.
Um dos alunos: Felipe... tem hipótese de escrita grafismo primitivo.
Os alunos com hipótese pré-silábica usam as letras para grafar as palavras; alguns não têm controle de quantidade de letras.
Défine Oliveira: Sente dificuldade no momento de grafar as palavras, está com hipótese de quantidade no mínimo de duas letras para grafar e no máximo 3:
LAPISEIRA: RIG; CADERNO: HC; LÁPIS: RIG; GIZ: XX.
ALGUNS EXEMPLOS:

JANAÍNA ALCÂNTARA :
Tem valor sonoro oral; na hora de grafar não estabelece relação fala e escrita; predominância de letras vogais:
LAPISEIRA :AIAO CADERNO :AIE LÁPIS: UAIE GIZ: IAU

RIAN Lins: Teve resistência em realizar a atividade, entrou em conflito no momento de ler a palavra novo. Ele fez assim: O; pára, pensa e desiste.


UERLES SANTOS: Entrou em conflito no momento de ler LAPEVLA; dar conta que está sobrando letras:
__E agora, o que você vai fazer?
__Apagar...Pronto!- diz ele :( LAP VEL )

DAVI MENDES: Não se sentiu à vontade para grafar as palavras. Usa as letras do seu nome. Recorreu ao alfabeto exposto na parede; ficou o tempo todo questionando quais as letras que deveria usar. Fez assim:
LAPISEIRA : VADI CADERNO : VDA LÁPIS: DADI GIZ: DI

THIAGO PEREIRA:
Está entrando na hipótese de escrita silábica com valor sonoro.Escreve caderno assim: OEBO; ler as letras, sabe que está faltando algo, só não sabe o quê. Representa giz assim: J. Como não se escreve palavras com poucas letras agrega J O A O J; como não consegue fazer a leitura de sua escrita ler o nome das letras.


PLANEJAMENTO

Área: Linguagem

Tipo de atividade: Leitura

Objetivos:

* Ler antes de saber ler convencionalmente;
* Saber o texto de memória;
* Utilizar estratégias de antecipação de checagem;
* Confrontar com os colegas as diferentes interpretações;
* Estabelecer correspondência entre partes do oral e partes do escrito, ajustando o que sabe de cor a escrita conveniente;
* Que os alunos possam refletir sobre o sistema de escrita a partir dos desafios propostos pelo encaminhamento;
*Proporcionar a parceria de aprendizagem, mediada pelo professor;
*Comparar e estabelecer regras de inclusão e exclusão de pensamentos lógicos no desenrolar das atividades;
*Trocar opiniões que proporcionem avanços de suas hipóteses.

Conteúdo: Leitura

Duração: Uma aula

Material necessário:
* Parlenda: Rei Capitão
* Papel metro
* Cola
* Alfabeto móvel




POSSÍVEIS AGRUPAMENTOS
Manter a atividade com:



Alunos com hipótese silábica, que já fazem uso do valor sonoro das letras podem ser agrupados com alunos com escrita silábica que fazem pouco ou nenhum uso do valor com:

- Silábicos com valor oral;
- Silábico oral escrito;
- Silábico alfabético ou escrita pré-selábica;
- Alfabético com alfabético.


Observação:

É fundamental que os alunos com escrita pré-silábica não sejam agrupados entre si para realizar esse tipo de atividade; para eles, é importante a interação com alunos que já sabem que a escrita representa a fala.




DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE


Antes de aplicar a atividade, explicamos às crianças que iríamos trabalhar a parlenda: Rei Capitão. Antes mesmo que pedíssemos as crianças, em uníssono, declamaram a parlenda.
Fizemos os agrupamentos( de trio ). No começo, os alunos estavam inseguros, com medo de tentar, mas passados alguns minutos ficaram à vontade para arriscar.
Foi interessante perceber como que os mais avançados lideravam as dúvidas dos demais.
Percebemos, em vários grupos, a iminência da dúvida em conflito com a lógica. Eles iam por caminhos surpreendentes. Por exemplo: capitão é uma palavra grande, portanto tem muitas letras, uma das crianças, já bastante avançado tentando ler a palavra moça. leu moca, como ele sabia que tinha moça na parlenda, disse: __Não é moca não, é moça, por causa desse “bichinho” aqui...( era a cedilha ). Muitos foram pela pista mais óbvia: a letra inicial e a última letra das palavras, enfim, cada um procurava uma lógica para suas deduções. Os conflitos foram vencidos em um processo natural de trocas e questionamentos. Vencidas todas as barreiras e enfim montadas todas as parlendas, as crianças se sentiram orgulhosas e felizes pelo feito. Por fim colaram as parlendas em um pedaço de papel metro ( cada grupo ) e realizadas, cada uma colocou seu nome como se fosse uma prova de que elas podem e estão realmente aprendendo.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Foi um trabalho gratificante. Durante todo o percurso do trabalho, pudemos perceber como é complexo o processo de alfabetização. No diagnóstico, as crianças se comportaram de forma reflexiva. Cada uma elaborava suas hipóteses com muito cuidado. Quando pedíamos para interpretar o que escreviam, muitos eram seguros de suas construções, outros mergulhavam em suas reflexões aproveitando aquele momento para revisar o que escreveram e por fim arriscar a leitura. É interessante perceber que muitas vezes as contradições que as crianças enfrentam é o que as levam ao avanço de suas hipóteses.
Quanto a atividade esta foi desenvolvida com muito entusiasmo. Explicamos todos os procedimentos. De como a atividade iria acontecer. Feito os grupos, cada um começou suas tentativas. Os mais avançados ajudavam os outros, explicando o porquê de estar certo ou errado. É realmente magnífico o processo natural e espontâneo do aprender. A busca pela compreensão de como funciona o sistema alfabético é permeado de interrogações que serão vencidas nas práticas de leitura, nas indagações que só serão respondidas com o tempo, no tentar, no fazer acontecer.
Em discussão sobre essa experiência, que já é corriqueira em nossa profissão, refletimos sobre os percalços os quais enfrentamos no dia-a-dia em sala de aula. São muitos os problemas que enfrentamos em contra partida à nossa vontade persistente de fazer um trabalho que seja realmente bom e que valha para todos. Alfabetizar é acima de tudo um ato de amor. Como diz Rubem Alves:

"O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem."

Havendo o mediador que trabalhe com amor, no jardim da infância, é possível sim colher lindas flores. Mais cedo ou mais tarde flores aparecerão; cada uma com sua cor, sua originalidade, sua beleza. O que faz uma sala de aula avançar é a vontade de dar certo. As crianças precisam estar motivadas, perceber-se capaz. Quando damos o ponto de partida, cada uma delas procura estratégias significativas para alcançar o ponto de chegada. O importante é não desistir!Alfabetizar é acima de tudo um ato de amor.




REFERÊNCIAS :



pt.wikipedia.org/wiki/Rubem_Alves ( Acesso em: 23 abril 2009 )
Alfabetização: Parâmetros em Ação: Ministério da Educação